Descobri que a minha "estranheza" se deve, na verdade, a várias epifanias que tenho tido nos últimos dias....
1ª Epifania
No outro dia ia na escada-rolante, após sair do comboio no final de um dia de trabalho, e dei comigo a praguejar com o senhor que ia à minha frente. Só lhe via as pernas. Umas pernas que eu amaldiçoava por irem paradas no lado da escada que serve para quem quer, também, subi-las pelo seu próprio pé.
Quando o senhor recomeçou a subir... os meus olhos subiram e eu vi-o.
Gelei.
De costas para mim, aquele senhor podia ser o meu pai: as mesmas dificuldades a subir os degraus, a mesma cor de cabelo, os aros dos óculos semelhantes, o inclinar do corpo degrau a degrau... até as cores e tipo de roupa.
Reconhecer que os nossos pais já não têm 40 anos e aceitar que os anos também passam para eles, doeu.
Mas doeu-me mais imaginar que alguém poderia ter para com o meu pai os mesmos pensamentos cruéis que eu estava a ter acerca daquele desconhecido.
Moral da história: Todos somos filhos, pais, netos, sobrinhos de alguém. E é bom tratar os outros com a brandura e paciência que tratamos os nossos. E com a qual gostaríamos, um dia, de ser tratados...
2ª Epifania
Ando a dormir mal. Muito mal.
Tenho tido pesadelos. Muitos pesadelos.
Em todos eles tenho que optar entre abdicar de uma característica normal (ter cabelo, por exemplo) para permitir que um bebé meu a tenha. E faço toda a espécie de sacrifícios.
No fim, não estou grávida. Não nasce bebé nenhum. E eu sou apenas uma mulher (ainda) mais feia, sem cabelo, etc...
Amanhã tenho consulta de Ginecologia. A primeira a sério desde que descobri a minha doença.
Moral da história: Uma ansiedade escondida mata-nos. Na realidade não, mas em sonhos.... Destrói vidas.
3ª Epifania
Mudei de emprego, de funções. Deixei para trás uma série de situações desagradáveis à qual era totalmente alheia e que me faziam muito infeliz.
Pensei sempre que tudo seria diferente. A verdade é que me sinto muito mais tranquila: tenho mais qualidade de vida, adoro os desafios do dia-a-dia, amo de paixão a minha amiga e colega de trabalho com quem faço parceria porque, profissionalmente (e não só...) completamo-nos.
No entanto, há um vazio que continua lá. Algo que não sei descrever mas que não desapareceu. Antes pelo contrário: parece que agora, logo agora, resolveu crescer. Todos os dias um bocadinho.
E eu que sou uma pessoa bastante alegre e espirituosa, dou por mim calada. Fechada em mim. Silenciosa demais.
Moral da história: A maior tristeza da Humanidade é a insatisfação. E, quando a causa da mesma é desconhecida, mina tudo à sua volta...
Conclusão: Ou o Sol volta depressa ou eu ainda enlouqueço!
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