quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O assobio misterioso

Hora: 7h05 (Ah pois é, o pessoal levanta-se cedo....)
Local: Cozinha da casa alugada no condomínio ex-luxuoso
Enquadramento: Estou de pé, a olhar pela janela, enquanto bebo um iogurte e tento imaginar a temperatura lá fora. Quando começo a emergir dos meus sonolentos pensamentos, apercebo-me de um chiar muito semelhante a um assobio....

Cena:

"Não me lembro nada de ter posto a caneca eléctrica a aquecer água", penso de mim para mim...

E penso bem: viro-me e, antes mesmo de chegarem à bancada, os meus olhitos remelosos dão de caras com a dita chaleira toda desmontada numa prateleira...
Desisto.
Deve ter sido uma daquelas alucinações auditivas de quem ainda não percebeu que já saiu da cama há 10 minutos...

Além do mais, quando estou cheia de sono, desisto de tudo muito rapidamente.

**********

De novo a mirar o pinhal, noto que a dita chiadeira está mais audível.
Agora assemelha-se mais ao barulho - muito mais ténue, mas ainda assim... - do silvar de uma cobra.

Contas fáceis de fazer: sono + silvo + pinhal = "TENHO UMA COBRA DENTRO DE CASA!!!!"

"Acalma-te, mulher: tu mexes em cobras e não te arrepias; já sabes que elas começam por ser pequeninas tipo minhoquedo alargado... O teu Bizinho transporta as cobras dele no teu carro e tu na boa.... GAJA, TU CONSEGUES PROCURÁ-LA!!!"

Deixo de respirar... acalmo o bater do coração... E lá me pus a olhar para tudo quanto é recanto da cozinha!
Muito senhora de mim: "se a vir, agarro-a assim, mexo-lhe assado; o Biz já me mostrou como se faz; eu vejo o National Geographic e as cobras venenosas são grandes e só chegariam aqui trazidas por alguém; meto-a num tupperware, levo-a ao Biz, ele entrega-a no Zoo ou cuida dela..."

Mas, nisto, eis que o silvo deixa de se fazer ouvir.

Ainda com muito sono na minha cabeça, desisto.
"Mulher, que parvoedo: uma cobra na cozinha de um 2º andar e logo das que emitem silvos....", digo de mim para mim.

**********

Abro a janela para respirar um bocadinho de ar fresco e a ver se me acordo... pelo menos, de fantasias parvas que envolvam cobras na minha cozinha...

Mas lá está o som outra vez... Parece mesmo um gatinho a miar.

"Deve ser isso, e como estava de janela fechada, pensei logo em cobras e assim. Tanta borreguice junta logo de manhã, Fractal... Sossega!"

**********

Mas nem por isso me acalmo.

Fecho a janela e eis que começo a notar que o silvo se transformou quase no som de uma "língua de sogra", aqueles assobios de carnaval que se enrolam e desenrolam quando sopramos....

Por esta altura, já começo a sentir-me verdadeiramente intrigada e os nervos começam a despertar-me da soneira habitual...
Assim sendo, mais desperta, não desisto tão facilmente de encontrar o dito assobio que, quanto mais me enervo, mais se assemelha já a uma corneta....

Reparo, de repente, que a intensidade e o padrão repetitivo do som me parece familiar....

Velocidade nas pernas - que a esta hora da manhã ainda nem perceberam que fazem parte do meu corpo - e vou à sala buscar um cigarro para me acalmar...

Sento-me num banco da cozinha e, em vez de ir à janela fumar, tento acalmar-me...

Dou um grande suspiro e... Sai uma grande "cornetada"!!!!
Respiro fundo uma vez.
Outra vez.
Ouço cornetada atrás de cornetada....

O meu nariz virou assobio!!!

Páro.
Abro a janela.
Acendo o cigarro e digo de mim para mim: "Fractal, nunca mais deixes a medicação... Mulher louca"!

Moral da história:
Um nariz ranhoso logo ao nascer do dia é capaz de excitar mais a imaginação de uma mulher do que provavelmente alguns homens.

Etiquetas:

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial